terça-feira, 28 de julho de 2009

Benzedeira


Fui obrigado a ir à uma benzedeira. Após muitas brigas com os meus pais, eles sem saberem mais ao que recorrer, pediram a opinião dos conhecidos. A da maioria prevaleceu, diziam que eram os espíritos do mau tentando destruir a família. Que eles não tinham culpa das brigas. Eram os espíritos, sempre são. Cheguei a uma rua calma, por volta das três da tarde. Meus pais abriram a porta do carro, tive de descer. Empurraram o portão destrancado e também a porta da casa. Fiquei de pé longe deles, porém a benzedeira demorou e sentei. Pensava no meu quarto e no filme que estava perdendo. Ela chegou arrastando o corpo, calculei que tinha oitenta anos. O odor que emanava da pele velha me embrulhou o estomago. Pedi se podia usar o banheiro, a benzedeira sempre amável me apontou onde era. Fechei a porta e vomitei. Voltei com um sorriso. Notei pela seriedade dos meus pais, que deveriam estarem pensando ser alguma brincadeira para atrasar tudo. Porem não podiam brigar comigo, a culpa é dos espíritos. Sentei. Perguntou meu nome antes de começar o ritual. Em pé, ela murmurava e gemia. Pensava no filme que estava perdendo. Depois de mais alguns murmúrios, começou a passar a mão pelo meu braço e todo corpo. Imaginei que essa era a forma de arrancar os maus espíritos. Continuou passando a mão. Fiquei de pau duro. Permaneci sentado olhando a imagem da Virgem e de Jesus. Alisou minha cabeça, avisando que terminara.
Ao entrarmos no carro disse: amanhã quero voltar aqui.
Eles sorriram. Os maus espíritos estavam indo embora.

3 comentários:

  1. Os espíritos indo embora?
    Ou o desejo chegando?
    Belo!

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  2. gente... como assim ficou deste jeitoo??? Oo
    e pq sempre dizem que velho fede? idosos porcos fedem, mas não necessariamente a pele deles.

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